História de Caratinga

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Caratinga está situada na região leste do estado de Minas Gerais. Sua geografia é formada por morros e área acidentada de planaltos cobertos por florestas semideciduais. É cortada pelo Rio Caratinga, que, segundo Lázaro Denizart do Val, foi por onde, no ano de 1841, chegou o desbravador Domingos Fernandes Lana, à procura de uma planta de grande valor medicinal, a Poaia:

Com a influência resultante do bom preço da poaia e em procura da mesma, partindo das proximidades da atual cidade de Abre Campo, com alguns índios, deliberou penetrar os sertões nas regiões dos rios Matipó e Sacramento Grande, alcançou as nascentes do rio Caratinga, prosseguiu por onde é hoje a atual cidade desse nome, dobrou pelas águas do rio Manhuaçu, chegando até o local denominado Cuieté. (VAL,1933, p. 49).

Segundo do Val (1933), essa citação foi feita por Antônio Caetano do Nascimento, filho de João Caetano do Nascimento, fundador de Caratinga, sendo esse, outro desbravador que por estas paragens passou.

O desbravador, Domingos Fernandes Lana, impressionado com a grande quantidade de Cará Branco, um tubérculo alimentício, também conhecido como Caratinga, deu o nome ao local de “Serra da Caratinga” (VAL,1933, p. 49).

Bem antes da chegada dos desbravadores, o local era habitado por dois grupos de nativos: os Botocudos e os Bugres, que foram praticamente dizimados. O dia da cidade é comemorado em 24 de junho, com base no relato de Antônio Caetano do Nascimento:

Em 1848, entrou João Caetano do Nascimento, em Caratinga, com seus filhos maiores, muito patriota e de relação com Domingos Fernandes de Lana… (de quem requereu Bugres), e com seus companheiros, João da Cunha, João José e João Antônio de Oliveira, fez picada até Sapucaia… chegando à localidade que é a atual cidade deste nome em 23 de junho de 1848. Festejaram o dia de São João com uma grande fogueira e, nesse mesmo dia ofereceram uma posse para patrimônio desse santo, que é a atual cidade. (SAYGLI,2011, p. 32).

A edificação da primeira igreja de São João Batista, hoje patrimônio histórico da cidade, e a chegada do Padre Maximiano João da Cruz são destaques desse período inicial. Lázaro do Val afirma que: “era a pequena capela, inacabada e tosca, o único sinal de civilização da terra, que permanecia segregada e inóspita” (VAL, 1933, p. 59).

O município de Caratinga, MG, criado em 06 de fevereiro de 1890 possuía, à época, 10.572 Km e cerca de 25.000 habitantes. A primeira Câmara Municipal tomou posse em 7 de março de 1892, e permaneceu até 1894, tendo tido como presidente Sinfrônio Fernandes.

Alguns nomes ficaram marcados na história política de Caratinga, que até o ano de 1930 foi dominada pelo “Coronelismo”, podendo citar: “Silva Araújo”, Antônio e Raphael, líderes dos caranguejos, o primeiro deputado Joaquim Monteiro de Abreu, e José Antônio Ferreira Santos, conhecido por Santos Mestre. Agenor Ludgero Alves é  outro nome de destaque da política na época. Citado por Val, 1933, Agenor foi o primeiro morador do casarão conhecido popularmente como “Casarão da Rua João Pinheiro”, atualmente Casarão das Artes. Foi nomeado promotor da recém-criada comarca em 1917. Líder político maior, de 1919 até 1930. Conquistou inúmeros benefícios para a cidade, dentre elas: inauguração dos serviços de produção de energia elétrica, de propriedade da Empresa Industrial de Caratinga.

Segundo o Jornal (O MUNICÍPIO DE 24/07/1927), em 1927 deu-se início ao projeto para a vinda da Estrada de Ferro Leopoldina Rallway para a região, sob os cuidados dos engenheiros Dr. Rodolpho Darigo, chefe do serviço de construção do nosso ramal, e Dr. Antônio Monteiro de Castro, engenheiro do Estado de Minas Gerais e fiscal da construção, sendo então inaugurada em 07 de setembro de 1930. Nesse mesmo ano, ocorreu também  a  construção da rede de água e de esgoto.

No ano de 1906, sob a administração de Coronel Joaquim Monteiro de Abreu, então presidente da Câmara, foram plantadas as palmeiras imperiais e em 15 de agosto de 1930 foi lançada, pela Diocese de Caratinga, a pedra fundamental para construção da Catedral de São João Batista, sendo essa inaugurada em 20 de abril de 1935.

Segundo o Jornal (O MUNICÍPIO Nº 1.199), em 1957, na administração do prefeito Joaquim Vicente Bomfim, sob a cooperação do engenheiro Dr. Delmiro Alvim Machado, foi feito o calçamento em pedras portuguesas da Praça Cesário Alvim.

Em 1942 teve início a construção da Estrada de Rodagem Federal- DNER, e em  fevereiro de 1944, foi inaugurada a estrada da Bahia, chegando a Caratinga uma via de transporte que impulsionou ainda mais a economia de toda a região. Ainda em 1942, na administração de Dr. José Augusto Ferreira Filho, processou-se o calçamento da cidade a paralelepípedos, além da construção do Palácio Episcopal, obra essa que foi realizada pela Diocese, e inaugurada solenemente em 28/04/1944 com a presença do Arcebispo de Mariana D. Helvécio( VAL. 1933.p. 105). Nesse mesmo período, foi construído o primeiro edifício da Prefeitura e da Câmara Municipal, e na Praça Getúlio Vargas foi construído o Fórum Desembargador Faria e Souza, e poucos anos depois, em 24 de julho de 1947, foi inaugurado o Cine Brasil, um dos símbolos da modernidade na cidade.

O primeiro prefeito de Caratinga, após a Revolução de 1930, quando houve a separação dos Poderes Executivo e Legislativo, foi Jorge Coura Filho, que governou entre 1931 e 1932. Caratinga, que também é popularmente conhecida como “Cidade das Palmeiras”, se destaca nacionalmente pelos vários filhos dessa terra, como o cartunista Ziraldo Alves Pinto, o cantor Agnaldo Timóteo, a jornalista Miriam Leitão e o jornalista, biógrafo e escritor Ruy Castro. Também está localizada nessas terras, a reserva ecológica chamada Reserva Particular do Patrimônio Natural Feliciano Miguel Abdala (RPPN-FMA), que abriga o Muriqui, o maior mamífero endêmico da América Latina. A reserva do Feliciano, como é conhecida, recebe pesquisadores do mundo inteiro. A principal praça da cidade de Caratinga, Cesário Alvim, exibe um coreto que foi projetado pelo famoso arquiteto Oscar Niemeyer, que junto a vários outros monumentos históricos, tais como a Igrejinha São João Batista do século XVIII, o Casarão das Artes, a Escola Estadual Princesa Isabel, o Palácio do Bispo, a Catedral de São João Batista, Pedra Itaúna, Estação Ferroviária, Cine Brasil, antigo Fórum, além dos patrimônios imateriais compostos pela centenária Banda de Música Santa Cecília e o também centenário Coral São João Batista, formam o Patrimônio Histórico e Cultural do município.

 

Lourdes Aparecida Rodrigues

Historiadora e Mestranda em Patrimônio Cultural, Paisagens e Cidadania.

Diretora do Departamento de Patrimônio Cultural